segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Perdas e danos



É inimaginável a dor de um pai pela perda irreparável da vida de um filho. Mais que isto, como mensurar o tamanho deste sofrimento, se este pai acredita que a perda foi provocada por erros médicos? 
É incalculável o dano social provocado pela paralisação de serviços de transplantes de órgãos em uma cidade. Como calcular a perda de vidas humanas que poderiam ter sido salvas pelo ato voluntário da doação?
É impossível dimensionar a dor de médicos que têm sua credibilidade atingida e que de repente se vêem impedidos do exercício da profissão, presos em celas, suspeitos de terem cometido um crime? Como avaliar o dano moral e espiritual da perda da liberdade? Como colocar algemas em mãos que, livres, tinham o compromisso de salvar vidas?
É indescritível o dano provocado à imagem de uma cidade que tenha seu nome veiculado em todas as redes sociais e mídias tradicionais por supostamente abrigar uma rede clandestina de transplantes. Como medir o que isto afeta a idoneidade da classe médica deste município?
Sim, claro, temos a Justiça que tarda, mas não falha, ou que exatamente por tardar é falha. Tentamos acreditar que ela (a Justiça) se fará presente e dará o veredicto para tal situação. Contudo, quer isto aconteça ou não, cabe contabilizar que o vaso se quebrou e as partes coladas já não representam o mesmo vaso. 
Perdemos todos: os pais, os médicos, os doentes na fila de transplantes, a sociedade. 
O que nos resta? 
Apenas lamentar tanto sofrimento e calar nossa vontade imperiosa de julgar o certo e o errado. Refrear nossos inquestionáveis argumentos de absolvição ou condenação. Deter nossa pretensão de sentenciar a culpabilidade de alguém. 
Neste caso, o silêncio talvez seja nossa maior expressão de lamento. Não é omissão, é impotência. Silenciar, por vezes, é uma forma de pranto. É o grito contido de desalento entre tantas perdas e danos.

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