terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Quem está jogando as crianças no rio?

Conta a lenda que dois pescadores estavam na beira de um rio.
Um deles notou que algo vinha pela correnteza e, ao se aproximar da margem, percebeu que era uma criança se afogando. Imediatamente, ele se jogou no rio e salvou a criança. Quase ao mesmo tempo, o outro pescador percebeu uma outra criança se afogando também, e fez o mesmo, pulou no rio para salva-la. Passado alguns segundos, ambos perceberam que mais duas crianças se debatiam nas águas e pularam novamente para efetuar o salvamento. Antes que pudessem descansar, notaram que outras crianças vinham pela correnteza e , antes de mergulharem novamente no rio, um dos pescadores disse ao outro:
- Vai tentando salvar quantas você puder , que eu vou lá em cima ver quem está jogando as crianças!

O mundo anda confuso, os problemas são cada vez mais graves e cada um procura a sua maneira sobreviver às correntezas. Não é sem razão que a expressão “estou com a água no pescoço” é cada vez mais empregada. O número de pessoas que estão se afogando cresce em proporções geométricas e, paralelamente, reduz-se cada vez mais o número de pescadores. Cada um se preocupa com a sua sobrevivência e esquece que fazemos parte de um todo universal. Hoje tentamos salvar algumas crianças, amanhã achamos normal que muitas delas percam a vida.
O que fazer?
Como tantos, buscamos também as respostas. Talvez agir como o pescador que foi em busca das razões ou dos responsáveis em jogar as crianças no rio. E ao refletir sobre isso, e sem ter a pretensão de esgotar tema tão amplo e complexo, propomos alguns motivos causadores da situação atual. Um deles é a globalização.
A globalização, oriunda principalmente da Internet, ampliou a possibilidade do acesso à informação e tornou o mundo plano, como argumenta o jornalista americano Thomas Friedman. Isso fez com que as fronteiras geográficas não mais existissem e amplificou valores que atingem todos os países do mundo, indistintamente. À parte os aspectos positivos que a tecnologia nos proporciona e isso é inexorável, o “achatamento” do mundo vem unificar valores que atingem a todas as culturas.
Assim, reflexões sobre o valor da vida, a busca pela felicidade, a importância do relacionamento, para citar apenas alguns exemplos, passam por um filtro único, em uma pasteurização que busca “igualar” países, pessoas e culturas diferentes. Não é sem razão, que uma pesquisa recente realizada na China mostrou que a maioria dos jovens querem ser milionários e em pouco tempo. Ou seja estamos “ocidentalizando” o Oriente, fruto do chamado liberalismo econômico.
Estamos todos “comprando” pensamentos, ações e objetos que podem não ser exatamente o que consumiríamos se não estivéssemos sufocados por uma imposição midiática, que tem como principal instrumento, a Internet.
Tudo bem que o acesso a informatização não se estende a todas as pessoas, daí a existência do que se usou chamar de “analfabeto digital”. Porem, um dos mais desejados objetos de consumo é um lap top, ou um celular de última geração, para citar apenas alguns, que podem nos tornar mais “iguais” em um mundo de imensas diferenças sociais, econômicas e culturais. Nos ensina a natureza que a biodiversidade é a preservação da vida, portanto, nos “empacotar” em um pensamento único pode significar o fim da existência.
Por outro lado, seria hipócrita acreditar que podemos voltar atrás, ou mesmo, anestesiar o mundo e refrear a tecnologia. A Internet é uma faca, que tanto pode cortar alimentos, como pode matar um ser humano, mas é notório perceber que a rede mundial tenta equalizar o que por natureza é diferente.Mas, de novo, o que fazer?
É claro que para uma situação tão ampla e complexa, não existe apenas um único remédio, mas uma das formas de se amenizar os impactos parece ser o que se traduziu como “pense globalmente, aja localmente”. Ter o conhecimento, mas usar a sabedoria para distinguir o que realmente cabe a cada um fazer, sem perder aquilo que nos distingue, a nossa essência, a nossa identidade. “Tudo posso, mas nem tudo me convém” já nos ensina uma reflexão bíblica. Necessitamos saber qual a nossa missão nesse universo, o que podemos contribuir, o que sabemos fazer melhor, o que nos alegra o coração e não perder o foco, ou no popular, “não ser Maria vai com as outras”.
Uma outra sugestão é que cada um procure saber os problemas que atingem um determinado micro-universo, como exemplo, a situação da rua, do bairro, ou da cidade. Cito, exemplificando, o programa “Criança Esperança” da Rede Globo. Sem querer entrar no mérito das questões financeiras dessa ação, mas é uma atitude de responsabilidade social meritória, como também a realizada pelo SBT, o Teleton. Mas, será que as pessoas que auxiliam com suas contribuições crianças que residem em diversas cidades do país, sabem das condições das crianças do seu próprio bairro, de sua própria cidade? É muito saudável auxiliar pessoas em qualquer lugar do mundo, mas será que não é aqui, no meu bairro, no meu universo, que as pessoas estão precisando de ajuda?
Cabe por último, refletir que mais do que saber quem está jogando as crianças no rio, é tentar fazer a sua parte, cuidando das crianças que estão perto de você, no rio que margeia as casas da sua comunidade. Tanto quanto precisamos de rios e de peixes, neste caso, precisamos ainda mais de "pescadores".

3 comentários:

  1. Olá, William!
    Agora que tem sua inicial reconhecida no novo alfabeto começou 2009 mandando ver, hein?
    Foi um prazer receber seu e-mail anunciando a novidade e dela serei um visitante assíduo.
    Mas como já estamos, alguns é claro, avançadinhos na idade, sugiro que sempre que possa (quem sabe, uma vez por semana ou por mês) envie-nos um lembrete para visitar o seu espaço aqui.
    Dessa forma não só lembraremos de vir como também de, aos poucos, ir espalhando este endereço entre nossos contatos eletrônicos que a cada dia só aumentam.
    Grande abraço, parabéns pelos textos, poesias e reflexões.
    Antônio Viviani
    http://www.clubedavoz.com.br/vozes/viviani.shtm

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  2. Amauri Elias

    Olá William. Foi com grande alegria que recebi seu e-mail, ainda mais pela maneira conturbada com que terminamos o ano letivo no UNIFAE.
    Primeiramente quero me desculpar pela maneira indelicada que saí de sua última aula, mas, as coisas são assim mesmo. A vida é a arte do encotro....
    Conte sempre comigo, vou veicular seu blog entre meus amigos, e serei um visitador constante.

    Abraços.
    do amigo amauri

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  3. Olá Wiliam,

    Puxa, o meu erro ao postar esse blog fez com que eu perdesse a chance de ser a primeira a mandar uma mensagem.

    Eu e o Ricardo adoramos o seu blog, e temos certeza de que será mais um sucesso entre tantos projetos que você faz.

    Agora teremos um lugar para ler suas poesias, histórias e contos sem precisarmos esperar o Hora da Verdade 2.

    Sucesso!

    Bjos

    Laura

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