quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Proibido pedir voto ao eleitor

Muitos reclamam sobre o horário eleitoral gratuito: “Vai começar o festival de bobagens!”. Outros não agüentam os cavaletes dos candidatos. “Enfeiam a cidade”. Aquele não suporta carro de som. “Muito barulho na cabeça”. Fulano não pega santinho nem com reza brava. “Quando alguém vem me dar um santinho, jogo uma praga nele”. Sicrano excomunga candidato que expõe seu santinho na rede social. “Ali não é lugar para isto”.
Outdoor não pode. Showmício não pode. Distribuir camiseta, caneta, chaveiro, boné,  não pode. Propaganda em portais ou provedores de acesso não pode. Simulador de urna eletrônica não pode.
 Os excessos cometidos por candidatos e partidos em outras eleições, a imagem negativa da política e o abuso do poder econômico foram alguns dos fatores que contribuíram para que nós brasileiros ficássemos rigorosos, cheios de pudor, regras de boa conduta e “não me toques” quando o assunto é propaganda eleitoral e a justiça seguiu de certa forma as nossas vontades.
 O “politicamente correto” nos imputou uma camisa de força que para muita gente qualquer propaganda eleitoral é imoral, é ilegal ou engorda.
Se o ambiente está assim, é bom não esquecer que estamos em uma CAMPANHA ELEITORAL (helôooo!) realizada justamente para que a população conheça melhor os  candidatos, sejam eles bizarros, sérios, certinhos, revolucionários, acomodados, engraçados, propositivos, inocentes ou culpados. As pessoas têm o direito intransferível e inalienável de achar que aquele agiu certo, o outro errado, que Romários e Tiriricas devem ser eleitos. É possível até fazer uma adaptação na frase de Voltaire: posso discordar totalmente da sua escolha, mas defenderei até a morte o seu direito de escolher.
Mas para escolher é preciso ter acesso ao cardápio e os instrumentos de comunicação (rádio, televisão, internet, santinhos, folhetos, jornais, cavaletes, carros de som, conversas na esquina, debates, reuniões etc) são os canais para que o candidato possa se expor publicamente e revelar o que pensa e no que acredita. Por mais que a gente se sinta incomodado é necessário compreender e conviver durante algum tempo com algo que não faz parte do nosso cotidiano. Uma obra para ser realizada irá causar algum transtorno temporário e a campanha eleitoral existe até para que, discordando de alguma atitude de um candidato, escolhamos não votar nele.
Não estamos pregando “o pode tudo”. O que refletimos é que o “nada pode” também não é o melhor caminho no processo eleitoral. As diferenças ou as semelhanças entre os candidatos precisam ser mostradas para que o eleitor possa analisar e escolher de acordo com suas convicções. Fala-se tanto em excessos, contudo os excessos contra a campanha eleitoral também são prejudiciais à saúde da democracia.
Hoje percebemos o reflexo desta situação nos candidatos que se mostram temerosos por perderem o voto por uma ação que possa ser considerada agressão à nossa “sociedade civil organizada”. Para ilustrar, outro dia encontramos um candidato que, cabisbaixo, meio constrangido, como se estivesse cometendo um crime, nos revelou confidencialmente um segredo: ”olha eu sou candidato, mas, por favor, não conta prá ninguém tá?”.

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