sábado, 11 de agosto de 2012

Dona Esperança


Embora viaje por milhões de anos pelo mundo inteiro, há mais de 500 anos escolheu como sua residência fixa a Rua Brasil. Sabe ser ali, lugar de gente sofrida e ao mesmo tempo tão sonhadora, que a sua presença se faz tão importante. Já está muito velhinha e por vezes, parece tão cansada que faz muita gente acreditar no seu fim próximo. Porém, basta pensarem assim, para ela ressurgir ainda mais forte e cheia de vida.
Ela é amiga de todo o mundo, mas as crianças...ah! estas sim conhecem-na como ninguém. É possível notar sua presença no brilho dos olhos daqueles que, ainda no berço, começam a descobrir o mundo. E quando a roda gigante do tempo transforma as asas dos anjinhos nos primeiros passos, é ela quem, nas manhãs de dias ensolarados, brinca no escorregador do parquinho e, à tarde, na escola, rabisca também as primeiras letras da palavra infância. Quando chega à noite e os olhinhos se fecham, olha ela lá, nos sonhos, a recordar que o futuro é um presente muito mais doce que o doce do doce da batata doce.
Os jovens por sua vez têm nela uma companheira inseparável. Quando acontece o sorriso mais lindo do primeiro encontro e a dúvida gera tamanha incerteza, é ela quem invade os corações ardentes a lembrar que o amor sempre vencerá o medo. E se tempo depois, o desencanto acontece, ela abre seus braços em um abraço imenso para dizer que na próxima esquina existe a certeza de um novo encontro. Quando então, a estrada profissional se torna grande encruzilhada e a insegurança assume a direção da vida, ela é bússola a indicar a oportunidade como um caminho longo e aberto para quem aposta suas fichas no trabalho, na dedicação e na persistência.
E quando a engrenagem dos músculos se enrijece impossibilitando o movimento dos passos, ela está ali na sabedoria dos deuses, a lembrar que a história continua sempre na eternidade das almas.
Não há assim quem não tenha um testemunho da sua imprescindível companhia, principalmente quando o NÃO se apresenta em maiúsculas. Lembra daquela enfermidade que extinguia as forças para seguir em frente? Foi ela quem soprou aos ouvidos o verbo “Enfrente!” e ao seu comando, células venceram o imponderável inimigo. E a perda do emprego que sustentava a família quando o senhor desespero veio bater à porta? Foi ela a mostrar a existência das janelas que, pacientes, aguardavam sua vez. 
Enfim, se os amigos se foram e a solidão fizer sua morada. Se a vida se tornou um muro intransponível e não existirem mais saídas. Quando sentir que aquilo tudo se transformou em nada, acalme o seu coração e silencie seu espírito.
Perceba que alguém vem chegando com seus cabelos soltos ao vento e olhos verdes e imensos de uma luz infinda. Ela veio acolher os seus sonhos desfeitos, montar novamente todas as peças do seu quebra-cabeça, juntar os cacos de seu vaso desfeito.
É ela uma das maiores expressões do criador e nem precisava de um nome. Mas talvez tenha sido para dizer que a vida é eterna mudança ou mesmo convidar para a próxima dança, que lhe emprestaram um nome: Esperança.

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