sexta-feira, 20 de abril de 2012
Recursos desumanos e departamentos impessoais
Os nomes foram mudando ao longo do tempo e a identificação do setor foi ganhando mais status: Departamento Pessoal, Recursos Humanos, Gestão de Pessoas. A estrutura também passou a ter mais equipamentos, informatização, mais gente trabalhando e a inclusão de outras ciências como a psicologia. O processo de seleção ganhou mais cientificidade e a entrevista para a escolha do profissional adequado se compara hoje a uma dissertação de mestrado. Tudo para que o setor tenha competência em escolher pessoas certas para os lugares certos. Isto, claro, quando a opção não é buscar empresa especializada para exercer esta atividade.
Apesar de todo este cenário que nos motiva a pensar nos excelentes resultados obtidos, há que se refletir sobre um problema recorrente quer seja em empresa pública ou privada: muito de máquinas e regras, pouco de humano e expressivo. O tecnicismo, os resultados estatísticos, o ativo e o passivo no balanço patrimonial são utilizados como objetivos prioritários e o hardware e software assumem mais importância que o humanware. Dirão que isto é antigo, foi descrito no marxismo e, ao longo da história, por cientistas sociais e teóricos da administração. Conseqüência da competitividade de mercado, do capitalismo selvagem, da luta de classes, da globalização, do mundo virtual. Usamos o raciocínio por demais e perdemos a intuição. Descobrimos as causas das coisas para aceitar passivamente o problema. Dirão que tudo é natural, não é. Dirão que faz parte, não faz.
É necessário recordar permanentemente que somos veias e sangue, para não fortalecermos apenas os dutos e os óleos. Não esquecer que muito além do trabalhador e de sua função na empresa, existe alguém que sente, sorri, se encanta e cria. Que trabalha a dor e a alegria, que sonha e realiza, se emociona e faz pulsar. Dirão que é romantismo e que o “sistema é bruto”, estratégia de quem busca validar a violência. O universo é complexo, múltiplo e contraditório.
Neste cenário de dúvidas e incertezas, cresce a responsabilidade das lideranças nas empresas públicas e privadas. Infelizmente, o ambiente é paradoxal. Procuramos por líderes empresariais e o mercado nos oferece patrões. Carecemos de gestores públicos e recebemos apenas currículos de políticos profissionais.
Neste clima, onde o oásis imaginário esconde o deserto, observamos o modismo dos treinamentos e cursos de qualificação que não tem alterado o figurino: a maioria dos cursos não tem a presença dos lideres, pois estes “têm coisas mais importantes para fazer”. A consequência é matemática: líderes despreparados gerenciando subordinados mais qualificados e o denominador comum é a insatisfação nas relações. Gente reclamando de gente desde o chão de fábrica até as salas grandes e suntuosas da presidência. Operários falando mal do patrão e o patronato insatisfeito pela “incompetência” dos empregados. Embora a comunicação interna seja também outro instrumento up to date, a “rádio peão” ganha a cada dia maior audiência nas organizações.
O empreendedorismo tão propagado, muitas vezes é mais fuga, um grito de liberdade, a carta de alforria para quem se julga preso às correntes de uma empresa, sob o jugo de um patrão.
Para todo este quadro, não existe, claro, uma única solução, dado à complexidade do problema e à multiplicidade organizacional. Contudo, sejamos redundantes: o comandante é quem comanda o destino da embarcação. Ele precisa estar preparado não somente no necessário auxílio dos instrumentos de navegação, mas na habilidade de relacionamento com toda a tripulação. E tal como nas empresas, se os recursos forem desumanos e os departamentos impessoais, o naufrágio é certo.
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Se por um lado há um patrão que se acha líder, por outro lado há um líder sendo sufocado por um sindicato de classe que defendem maiores salários e menores cargas horárias. O resultado são empresas precisando de mais mão-de-obra, e colaboradores precisando de melhores condições.
ResponderExcluirAs leis trabalhistas que estão em vigor hoje, não ajudam nem empresas, nem colaboradores e muito menos o desenvolvimento do Brasil.
Assim, o Brasil perde empresas e brasileiros, que vão pra fora do país buscar novas regras, novas condições, e novas oportunidades.