sexta-feira, 27 de abril de 2012

Brincando de Estátua

Se pudesse brincaria de estátua com o tempo e congelaria alguns momentos para que permanecessem eternos. O sono interminável na cama simples de lençóis brancos da casa bordada de azulejos, de alpendres amigos, de janelas de madeira azuis e trincos abertos e, o silêncio da noite interrompido apenas pelos grilos falantes e a melodia dos pingos de chuva nas telhas de barro. O primeiro olhar no grupo escolar para a menina de saia azul rodada, de olhos pretos, de “Maria Chiquinha” nos cabelos loiros, minha primeira e insubstituível esperança de um virar dois. O futebol nos campinhos de terra com a bola de capotão e nas tardes de chuva, as roupas, canelas, braços, pernas, faces, olhos e cabelos, limpos pela lama da infância. As conversas inconseqüentes nas calçadas- quando a cidade ainda era um bairro só- sem a pauta da TV, da amizade sentada em cadeiras de pau e como testemunhas, a praça da matriz, o pipoqueiro e as ruas largas de pedras irmãs. O grito do carteiro comunicando a chegada daquela carta- quando o tempo ainda demorava a chegar- com o envelope cheirando goma arábica e a letra manuscrita de quem escrevia seu nome na minha história. O abraço imenso e apertado de minha mãe quando na adolescência parti em busca dos meus sonhos. E o retorno tão aguardado das férias, do ônibus parando na esquina e aquele sorriso que nunca partiu a me acolher novamente. Os almoços intermináveis de família -quando a comida ainda não era o prato principal-temperados com muita prosa e o sabor dos risos das pessoas que se sabiam eternamente próximas. Se pudesse brincaria de estátua com o tempo.Mas ele,o tempo, se mexe a todo o instante.Pena.O tempo não sabe brincar.

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