sexta-feira, 8 de abril de 2016

Antes, socialistas. Hoje, socialites.

Estou pensando seriamente em escrever um livro cujo nome já defini: “Antes, socialistas. Hoje, socialites”. Tenho a convicção que material para isto não faltará devido ao número de políticos que outrora se posicionavam como socialistas e hoje, continuam até defendendo a mesma bandeira, porém, fazem isto deitados em uma rede de um lindo tríplex localizado em um bairro chique ou mesmo na orla de uma grande metrópole brasileira.
Um dos fatos inspiradores a escrever tal livro foi assistir dias atrás na TV Senado, o pronunciamento da senadora pelo Amazonas, Vanessa Graziottin, do Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Ela fazia um “aparte” ao pronunciamento do senador Lindberg Farias do Partido dos Trabalhadores(PT). O “aparte” era recheado de elogios ao senador petista, antecedidos sempre pelo “Vossa Excelência” para cá e “Vossa Excelência” para lá.
A cena me trouxe à lembrança o início de minha “carreira jornalística” no final da década de 1980 na capital paulista. Ainda como “foca” (jornalista iniciante) arrumei uma vaguinha (que não durou muito, pois o jornal foi ‘lacrado”) no “Voz da Unidade”, periódico do Partido Comunista Brasileiro (PCB). Minha função, não remunerada, era escrever sobre o calendário comunista. O referido jornal, salvo engano, durou até o início da década de 1990.
Ao ver a senadora na TV foi inevitável a comparação com os comunistas e socialistas daquele período. As mulheres, em sua maioria, eram jovens “ripongas” de calças jeans e tênis, camisetas brancas estampadas com a célebre foto de Che Guevara. Os homens, de camisa social por sobre a calça preta, sapatos pretos, cabelos desalinhados e barba por fazer. Me lembro até do Lindberg que naquela época iniciava sua trajetória política como presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE).
Ao confrontar a imagem da senadora do PCdoB, toda vistosa e cheia de “excelências”, com os socialistas e comunistas daquela época, de roupas rotas e linguajar ferino, foi como, sem juízo de valor, comparar um poodle de madame a um “tomba saco” de rua. Nada contra a classe, a beleza, a postura e as roupas da senadora, mas que a diferença é abismal, não tenho a menor dúvida.
A senadora me fez pensar sobre os inúmeros políticos brasileiros que, décadas atrás, bradavam contra o capitalismo tendo debaixo dos braços um exemplar de “O Capital” de Karl Marx e hoje, muito menos enfáticos, continuam a falar sobre a “direita golpista”, a luta de classes, a mais valia, porém, não abdicam de se alimentar do luxo e das benesses do sistema. Interessante perceber ainda que tecem críticas ferrenhas contra a elite que é exatamente a classe à qual pertencem na atualidade, embora nunca admitam.
Comentar sobre a miséria humana, legislar sobre justiça social, defender as minorias e os excluídos, fica muito mais eloquente e saboroso, durante um jantar à luz de velas em um restaurante parisiense, degustando um salmão e deliciando-se com uma geladíssima champagne Moet & Chandon.
Muitos intelectuais que se auto consideram de esquerda são como cientistas de laboratório. De posse de um microscópio em um ambiente controlado, analisam as causas da existência dos marginalizados sociais, indignando-se com as injustiças geralmente provocadas pelo poder do capital. Contudo, minutos depois, retornam para as suas mansões palacianas e lavam suas mãos com álcool em gel.

Nenhum comentário:

Postar um comentário