Não sejamos hipócritas.
Desejar ter as coisas, desde um simples carro até um jatinho executivo, ou
mesmo um apartamento na periferia até a mansão em uma ilha paradisíaca, traduzem
o que é ser feliz para a maioria dos seres humanos no planeta Terra, com
raríssimas exceções.
O conceito de que “dinheiro não traz felicidade” só existe na
cabeça das pessoas que já possuem muito e podem se dar ao luxo de serem
“tristes” por opção. Claro, existem pessoas
(seres extraterrenos?) que pregam exatamente o contrário, como os monges tibetanos
que afirmam ser o desejo, a fonte de todo nosso sofrimento. Tudo bem.
Mas, enquanto lá, eles
praticam o budismo, aqui se pratica o “bermudismo”, ou seja, ser feliz é ficar
de bermuda em uma praia tomando cerveja e o vento a favor. Enquanto lá eles
veneram o Lama (“o mestre”), por aqui viver na lama é tudo o que se tenta
evitar. Enfim, como dizia o saudoso
mestre Joãosinho Trinta, “quem gosta de pobreza é intelectual”. Alias, existem os
intelectuais que discorrem sobre a alienação das massas na mesa de um refinado
restaurante degustando um macarrão ao molho pesto com tomates cereja acompanhado
de saboroso vinho tinto espanhol, exatamente como relata o escritor Rodrigo Constantino
em seu “Esquerda Caviar”.
Nada contra o ter. O acesso às boas coisas da vida em uma visão
positiva significa ter sucesso profissional e pessoal, resultado do esforço e
do desempenho no trabalho. Vamos combinar, nem só de pão vive o homem e ter um
patê de ervas para passar no pão é tudo de bom.
Assim caminha a humanidade e em nosso país, a coisa, desde
Pero Vaz, caminha assim: a maioria dos brasileiros não tinha (e não tem) casa
própria, não tinha (e não tem)carro, não tinha (e não tem) pra ter, nem patê.
Daí, o governo federal nos últimos tempos resolveu dar uma mãozinha, duas
mãozinhas, três mãozinhas. Assim nasceram as “bolsas” e tantos projetos que
objetivam “dar” coisas a quem nunca teve. Seria um gesto humanitário e
providencial se por detrás não se escondesse uma questão maquiavélica: ao propositalmente
fortalecer o ter, o governo enfraqueceu o ser para se manter no poder. Uma rima
que nos leva a uma alienação às avessas. Aliena-se e manipula-se não somente pela
inacessibilidade do trabalhador aos bens, como apregoou Karl Marx, mas também quando
preenchemos os desejos de casa e comida, pão e circo. O pássaro se prende não é
pela gaiola, mas pelo alpiste que o alimenta.
Quando ouvimos o ex-presidente Lula afirmar ter chegado aonde
chegou (uma fortuna considerável) sem ter estudado, significa que no Brasil é
possível ter coisas, sem ter aprendido, se esforçado, ou mesmo, trabalhado para isto. É possível, em nosso país, ter sem ser.
A atitude é tão sutil e dissimulada que passa imperceptível e
conta com o apoio popular. O “antes eu não tinha e agora tenho” avaliza as
ações governamentais e estamos conversados.
Em outro exemplo de engodo, o governo afirma buscar tirar a
maconha dos jovens, porém, não faz a sua lição de casa, muito mais complexa,
que é tirar os jovens da maconha. Parece simples jogo de palavras, mas existe
uma diferença abissal entre as atitudes.
No Brasil de hoje, socializamos as facilidades,
democratizamos o desconhecimento, repartimos a ignorância, pois, segundo o
governo e algumas denominações religiosas, somos o que possuímos.
Contudo, mais cedo ou mais tarde, a conta chega.
Estamos e, só não vê quem não enxerga, começando a pagar o
resultado de nossas escolhas.
O ter, que tanto nos inebriou e nos creditou a falência do
ser, começa, aos poucos, a ser vítima de si mesmo e ter sua própria falência
decretada com a possibilidade de chegarmos a uma equação inexeqüível: nem
teremos, nem seremos.
O homem é por natureza ignorante, mas a natureza é sábia.
Maktub no youtube.
Ao semear vento, colhemos a tempestade.
“O pais não descoberto, de cujos confins, jamais voltou
nenhum viajante, nos confunde a vontade nos faz preferir e suportar os males
que já temos a fugirmos pra outros que desconhecemos? -(Hamlet-Wiliam
Shakespeare)
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