Sou como
milhões: conheço centenas de pessoas, converso habitualmente com dezenas delas
e tenho poucos muito amigos.
Sim, porque amizade
não é uma questão quantitativa, nem pode ser.
Ninguém tem centena de amigos. A maioria conta seus amigos pelos dedos
das mãos. Só Roberto Carlos é que, em uma antiga canção, afirmava querer ter um
milhão de amigos... que comprassem seus discos e acabou conseguindo.
Amigo de
verdade não tem a ver com querer. Se alguém disser “quero ser seu amigo”,
pronto, acabou a amizade, até porque cheira falsidade. Amizade não é algo que
se escolhe, não tem a ver com desejo, não exige esforço, nem experiência. Não exige currículo, carta de apresentação,
nem bons antecedentes.
Os amigos
que tenho foram frutos de encontros fortuitos e que, sabe-se lá porque,
continuaram fazendo parte da minha existência ao longo do tempo. Tornamo-nos amigos
realmente sem querer.
Não conheço
ninguém que possua uma “caderneta de amigos” e, por favor, não me venham com
esta história de amigos virtuais. Não desqualifiquem a palavra. Amigo é quem
compartilhou com a gente, em corpo presente, alegrias e tristezas. Aquele que sabe
da nossa história, que conhece o espelho de nossa alma e frequenta nosso coração.
Derramou lágrimas ao nosso lado sem dizer uma única palavra e gargalhou junto
por uma piada infame até ficar com dor no pescoço. Existe coisa mais irônica do
que ler no alto da página no Facebook: “Ajude fulano a encontrar os amigos
dele”. Coitado do cara. Cadê os amigos dele que o deixaram sozinho?
Amigo mesmo
até se esquece da data do nosso aniversário, mas lembra sempre de torcer
diariamente para que a gente seja feliz. Não precisa estar geograficamente
próximo, pois amigo de verdade reside permanentemente no quarto das nossas
lembranças, no sótão das nossas memórias. Não precisa telefonar para gente sempre, pois sabe
que a ligação é permanente. Amigos nunca vão embora, pois a proximidade não é
física.
Amizade lembra
algo genético, sem ser familiar. Parece muito com transfusão, mas não tem nada
a ver com laços sanguíneos.
Os amigos
que tenho são pessoas fantásticas e, por isto mesmo, possuem muitos defeitos.
Um deles é o mesmo meu: na maioria das vezes eles não dizem para mim os
defeitos que tenho. Não é falta de sinceridade. Amigo não precisa ser sempre sincero,
nem ser sempre mentiroso. Não precisa declarar que gosta da gente. Não
necessita testemunhar, nem provar sua amizade.
A amizade
não precisa de justificativas.
A gente é
amigo por tudo e apesar de nada.
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