segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Agora e daqui a pouco


Ela promete o prazer, a felicidade permanente, o êxtase, o encontro com os deuses, à liberdade. Ela encanta os incautos, inebria os entediados, seduz inocentes. Ela diz expandir a consciência, eternizar a sensibilidade, realizar os desejos impossíveis. Ela está ali na esquina, frequenta as escolas, se diverte nas baladas. Mas pode ser encontrada também em consultórios e escritórios, nas portas das empresas, no trafegar das rodovias, na orla das praias, nos bairros mais ricos, nas palafitas e favelas. Encontra-se disponível à luz do dia e na negritude da noite, 24 horas por dia. Pode se vestir de terno e fraque ou até de camiseta e bermuda. É percebida no olhar de um adulto, mas já se encontra também disfarçada no sorriso de uma criança. Sua chegada é comemorada com fogos e euforia e a sua amizade pode ser para sempre.

Ela sequestra os sonhos, aprisiona os sentidos, rasga os contratos, ceifa os laços da amizade. Ela enfraquece os órgãos, apodrece os membros, desconfigura os sentidos, envelhece a face. Acorrenta a liberdade, desilude a vontade, assassina o amor. Ela perturba a paz, macula a fé, apaga a esperança. Adoece as famílias, invade os quartos das clínicas, ocupa as celas, preenche as valas dos cemitérios. Inocula as veias e contamina o sangue. Inala as narinas e retira o ar. Compartilha o cérebro e deleta a consciência. Ela é doença crônica do corpo e da alma, a solidão do cosmos, a ferida que nunca se fecha, a tristeza do adeus, a ausência da poesia, o desafinar dos instrumentos, o choro incontido, o desespero da dor, o tsunami social.

Agora, o prazer, a liberdade, saúde e vida.

Daqui a pouco, a dor, a prisão, doença e morte.

Droga- o agora nunca vale pelo daqui a pouco.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário