sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Bullying


Descobri: sou uma das vítimas desse tal de bullying. Explico. Quando criança por ter a pele clara e cabelos loiros,  meus colegas de escola me chamavam de “branquelo”, “alemão”, “bicho de goiaba”, “jaleco de médico” e por aí afora. Uma vez fui de excursão para a praia e um amigo me disse: “Vi você na praia e Luzia”. Eu disse: mas eu tava sozinho. E ele: “É que você “luzia” de tão branco”. Hehehe! Não achei graça nenhuma. Porém, quantas vezes tomei sol passando aqueles bronzeadores caseiros só para ficar mais “moreninho”. Aí é que a situação piorava ainda mais: -“Ô pimentão!”.
Hoje sei que muito dos meus problemas atuais, cientificamente comprovados, foram frutos das gozações, quer dizer das “bullinzadas” que recebi na infância, inclusive o fato de não conseguir comer goiaba, principalmente aquelas brancas que têm bicho dentro. Quer mais: fico nervoso só de ver médico de jaleco e também nunca comprei carro alemão. Agora eu pergunto: quem é que vai se responsabilizar por todos estes traumas que até hoje afetam a minha vida? Fala aí, ô dona Mônica, digo, dona Dilma. Quero ver se a senhora tem café no bullying, quer dizer,  no bule, para resolver isso.
Estou pensando seriamente em processar judicialmente o governo, afinal, fui aluno de escola pública. Refletindo bem, melhor não. De repente alguém se lembra que eu o chamei de “negão”, “gordinho”, “poste”, “bafo de onça”, “chulé”, “polegar”, “dumbo”, “meio vort”, “quatrozóio”...deixa quieto. De qualquer maneira, foi bom descobrir que aqueles apelidos que eu tinha, ganharam hoje um apelido diferente, mais bonito, americanizado: bullying.
Tá certo. O mundo ficou muito sério e coisas que antes eram consideradas meras brincadeiras de criança, perderam a graça e passaram a ser problema para os adultos analisarem e resolverem.
Antigamente a rua nos ensinava a vida: ralávamos o joelho na pelada, quebrávamos o braço andando de bicicleta, ficávamos esfolados e doloridos pelas brigas para, no outro dia, tudo ser esquecido.
Xingávamos e éramos xingados. Zombávamos e éramos zombados. Respeitávamos e éramos respeitados. Desde criança aprendíamos que viver era conviver com os conflitos e os choques e contusões faziam parte da convivência, nada mais. Por sermos tão desprotegidos pelas leis dos homens, aprendíamos a nos proteger pelas leis das crianças, aquela que em seu primeiro artigo dizia: “tudo será permitido, desde que seja de brincadeira”. E naquela época, daquele jeito, fomos felizes para sempre.
Vivemos hoje um mundo de mais regras e menos responsabilidades. Mais garantias por decreto, mais inseguranças no concreto. Pais culturalmente amparados, filhos socialmente desamparados. Somos filhos de um  governo que incentiva o ter e na mesma medida desqualifica o ser.
Legalizamos tudo e nada está legal. As crianças se tornando mais adultas e os adultos, menos crianças.
Alguém disse um dia que a nudez era um mal e precisávamos cobrir o corpo. E assim foi feito.
Precisamos sim combater o bullying, agora que o descobrimos.

 

3 comentários:

  1. Amo você meu "Branquelo", "Baleia", "Quatrozóio"! Sua eterna "Magrelinha"

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  2. Que mundo cada vez mais chato pra se viver, né não?

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  3. Com certeza Viviani, chato, cricri e pernilongo abs

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