sexta-feira, 2 de março de 2012

Vamos estar estudando

Vivendo em Poços há anos, (alias,quando nasci eu já estava aqui) tenho a sensação de que “deverasmente” nesta nossa estância tudo demora um pouco mais para acontecer, isto quando chega a acontecer. Existe uma “enrolação”, um “depois a gente resolve”, uma ausência de respostas conclusivas e assertivas. Percebe-se a tendência a deixar o pão de queijo por mais tempo no forno pela linguagem utilizada e que tem o gerúndio como suporte para o adiamento, a ausência de resolução ou a enganação mesmo. O gerúndio, explica o guru Google, indica uma ação em andamento, um processo ainda não finalizado. É exatamente isto: existem ações em andamento permanente e processos que nunca são finalizados. “Somos uma cidade gerundística por natureza”, diria Odorico Paraguaçu, o impagável político da série “O Bem Amado” de Dias Gomes.
Por falar em política, o uso do gerúndio pode ser percebido principalmente na fala de homens públicos que utilizam esta forma nominal de verbo como saída para dizer nem sim, nem não, e agradar (ou desagradar) o eleitorado. Pergunta o cidadão, por exemplo, ao político: O que será feito da Estação Mogyana? A resposta possível: “Prafrentemente vamos estar estudando uma solução que estaremos encaminhando aos setores responsáveis em outras esferas governamentais”. Existe sempre um futuro obscuro, uma possibilidade sem muita verdade, um talvez, uma incerteza certeira no ar. O “ando” depois de qualquer verbo nos dá a percepção de que as coisas verdadeiramente não andam, quando muito, se arrastam sobre os trilhos. O “estamos estudando” é freqüente, mas a formatura e o diploma nunca se materializam.
“Concernentemente” vale dizer que o uso do gerúndio não é privilégio da iniciativa pública, pois na privada isto também ocorre. Você sabia que o uso repetitivo do gerúndio se chama endorréia? Não? Nem eu. O fato é que qualquer semelhança com diarréia não será mera coincidência.
Veja se não é comum ouvir de pessoas dos mais diversos setores um ”vamos estar analisando aquela proposta...”, o que em outras palavras, quer dizer, “sua proposta não nos interessa”. A verdade é que por detrás desta aparente gentileza ou simpatia se escondem a falta de objetividade e de sinceridade, deixando de ser apenas um vício de linguagem para se tornar um vício de atitude de quem não quer se comprometer.
“Botando de lado os ora veja” vou estar convidando você nestes “finalmentes” a estar refletindo sobre o que disse o publicitário Ricardo Freire. “Nós temos que estar nos unindo para estar mostrando a nossos interlocutores que sim, pode existir uma maneira de estar aprendendo a estar parando de estar falando deste jeito”.
Agora, vou estar indo, quer dizer, fui.

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