domingo, 27 de março de 2011

Em nome dos filhos

Existem assuntos muito sérios que todo mundo acha graça. Um deles: nomes estranhos. Tudo bem. Quem é que não sorri quando fica sabendo que um menino tem o nome de Hericlapiton- homenagem dos pais ao guitarrista britânico Eric Clapton. Ou que uma mulher ganhou o nome de Jafa Lei, pois, ao que consta, a pessoa do cartório perguntou qual o nome da filha e a mãe respondeu: “Já falei!“.
A lista é imensa: Welison Isnaipi (Wesley Snypes), Suasneguer (Schwarzenegger), Tospericagerja (em homenagem à seleção do tri: Tostão, Pelé, Rivelino, Carlos Alberto, Gerson e Jairzinho), Ava Gina (em homenagem a Ava Gardner e Gina Lolobrigida), Madenusa (Made in USA)...
Uma piada diz que indio , por exemplo, dá nome aos filhos pela primeira coisa que a mãe vê quando acaba de dar à luz. Assim, Lua Brilhante, Águia Dourada e. Burro Cagando.
Embora seja cômico, o assunto é extremamente sério, pois os pais geralmente não pensam no preço que os filhos irão pagar ao longo da existência por terem nomes, no mínimo, diferentes.
Muitos alegam que isso acontece geralmente com as pessoas mais simples que buscam homenagear seus ídolos, através dos filhos. Pode ser. Mas, artistas de renome também fazem isto. A cantora Baby do Brasil (Baby Consuelo) consultou os “astros” para os nomes dos filhos e Rá!: Sarah Sheeva, Zabelê, Nana Shara, Kriptus Rá Baby, Krishna Babye e Pedro Baby.
Vale lembrar também os nomes engraçados e reais para duplas sertanejas : Atleta e Treinador, Domyngo e Feriado, Conde e Drácula, Bátima e Robson...“Ustrudia”convidei um amigo para formarmos uma dupla sertaneja. A novidade seria que fariamos apenas um som instrumental. Em razão disso, sugeri o nome : Estrume e Ental. Não deu certo porque ele queria ser o Ental.
E se pessoas mais simples homenageiam os ídolos com nomes complicados para seus filhos, o que acontece atualmente com as pessoas, digamos, de classe socialmente privilegiada? Aí o problema é outro. Busca-se a simplicidade, porém, com algum diferencial, ou seja, o ideal é ser igual, mas, diferente. Assim, por exemplo, Ana, ganha um “ene” a mais: Anna, ou mesmo, Anne. Um nome fácil como Maria, pode ganhar um “y”: Marya. É um acento a mais, uma letra a mais, um “Uósxinton”, uma “Creusa”. Como dizia o filósofo: ”Tudo na vida seria simples, se não fossem as dificuldades”.
Há que se refletir ainda que, atualmente, o nome tem uma referência direta com o mundo digital. O e-mail passou a ser o endereço das pessoas. Daí, a dificuldade passa a ser real no mundo virtual. Um “l” a mais, um “t” a mais, isto sem comentar os nomes “gozados”, passam a ser um problema no universo cibernético.
E quem é que sofre as conseqüências das inconseqüências dos pais? Os filhos. São eles que serão ridicularizados em sala de aula, em entrevistas de emprego, em qualquer situação que tiverem que pronunciar seus nomes. Sentirão vergonha e terão que explicar várias vezes a grafia ou mesmo, a pronúncia correta. Geralmente, para disfarçar, optarão pelo apelido ou por reduzirem o nome, como Bucetildes (chamada, pelos familiares, de Dona Tide).
Então, senhores pais, pensem muito ao legarem aos filhos nomes que julgam ser interessantes. Lembrem-se: todo mundo poderá achar graça, menos o seu próprio filho.

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