sábado, 26 de fevereiro de 2011

Maquiavelicamente

Muitas vezes buscamos entender as questões que envolvem o universo da política, posto que, na maioria das vezes, nos parecem absurdas, contraditórias e inexplicáveis. A maioria prefere nem se aproximar do tema, mas daí refletimos: a quem interessa o desinteresse, a apatia, a omissão? Recorremos a Brecht: ”da ignorância política, nasce à prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.” Nunca é demais lembrar: quem não gosta ou não se interessa por política, será governado por aqueles que se interessam. Responda: quantos são os “novos políticos” que você conhece? A política se retroalimenta. A percepção negativa das pessoas sobre o assunto vem auxiliar o próprio sistema que terá sempre os mesmos postulantes aos cargos públicos. Ou então, ela (a política) será utilizada pelos partidos para a preservação do poder, no espaço maquiavelicamente aberto aos ”populares”, sejam eles “baixinhos” ou “tiriricas”. Os fins justificam os meios?
Quando queremos nos aprofundar sobre determinado tema, nos aconselhamos com aqueles que são reconhecidos e citados ao longo de décadas, e, se o assunto é política, o italiano Nicolau Maquiavel (1469-1527) tem seu espaço reservado. Vale esclarecer que o objetivo de inserir algumas citações do autor de “O Príncipe”, não é o de oferecer nosso aval sobre as opiniões do filósofo e escritor, mas, provocar a reflexão.
Como se tornar um governante? Sobre o assunto, Maquiavel afirmou: “há duas maneiras de tornar-se Príncipe e que não se podem atribuir totalmente à fortuna ou ao mérito. Essas maneiras são: chegar-se ao principado pela maldade, contrárias a todas as leis humanas e divinas; e tornar-se príncipe por mercê do favor de seus conterrâneos”.
E quem são os “inimigos do rei”? “Assim, são teus inimigos todos aqueles que se sentem ofendidos pelo fato de ocupares o principado; e também não podes conservar como amigos aqueles que te puseram ali, pois estes não podem ser satisfeitos como imaginaram e nem poderás usar contra eles remédios fortes, obrigado que estás para com eles.”
O que um governante deve temer? “O pior que um Príncipe pode esperar do povo hostil é ser abandonado por ele. Mas, da inimizade dos grandes, não deve temer só que o abandonem como também que o ataquem, pois têm estes maior alcance de vistas e maior astúcia, e têm sempre tempo de salvar-se, procurando aproximar-se dos prováveis vitoriosos. Ao Príncipe é muito mais fácil conquistar a amizade daqueles homens que estava contentes com o regime antigo, sendo, portanto, seus inimigos, do que a daqueles que, por descontentes, fizeram-se seus amigos e aliados, ajudando-o na conquista do Estado. Note-se que um Príncipe deve ter o cuidado de não fazer aliança com um que seja mais poderoso, senão quando a necessidade o compelir, pois que, vencendo,ficará prisioneiro do aliado”.
Como um governante deve escolher seus secretários? “A primeira conjetura que se faz, a respeito das qualidades de inteligência de um Príncipe, repousa na observação dos homens que ele tem a seu redor. As cortes estão cheias de aduladores, porque os homens se comprazem tanto nas coisas próprias e de tal modo se enganam nestas que é com dificuldade se defendem dessa peste”.
Como escolher entre o bem e o mal? “As injúrias devem ser feitas todas de uma vez, a fim de que, tomando-se-lhes menos o gosto, ofendam menos. E os benefícios devem ser realizados pouco a pouco, para que sejam mais bem saboreados.”
Nada mais havendo a tratar, convido, a quem interessar possa, a ler Maquiavel... ou não. Afinal, política é um assunto que só deve interessar aos políticos. Maquiavelicamente.

Um comentário:

  1. Para bom entendedor meia palavra basta!

    (Fico feliz de ver que está voltando a postar seus textos aqui)

    Abraços

    ResponderExcluir