segunda-feira, 3 de maio de 2010

Pessoas e coisas

O assunto é antigo e cada vez mais atual. Coisas e pessoas fazem parte da vida de todos nós. Coisas como celular, carro, casa, computador. Pessoas como pai, mãe, filhos, esposa, marido, avós, e em primeiro lugar: a gente mesmo. Nos dias atuais, se fortalece a concepção de que estamos tratando coisas como se fossem pessoas e pessoas como se fossem coisas.Invertemos os papéis. Ao invés de usarmos as coisas, as coisas passaram a nos usar. Acreditamos que ao cuidar das coisas, melhoramos as pessoas e o nosso relacionamento com elas. Assim, por exemplo, nos obrigamos a dar a nós mesmos, coisas como um bom carro, uma boa casa, o home theater do momento. Ofertamos aos nossos filhos, um computador, o último modelo de celular, as grifes da moda.
Consumir passou a ser sinônimo de felicidade e a nossa vida se tornou uma vitrine. Parecer é mais importante que ser. Coisificamos as pessoas, transformando-as em produtos descartáveis. A embalagem se tornou mais importante que o conteúdo e a mídia e a propaganda trata de nos empacotar com as cores da moda. Isto está no vocabulário dos jovens, através da coisificação dos relacionamentos: peguei, usei, descartei... a fila anda. Tudo vira produção em série. Repare você nas festas de casamento e de aniversário: pompa e circunstância.
Os nossos encontros se tornaram virtuais, o nosso bate papo virou e-mail, o abraço real se tornou um gif animado. Transmutamos sentimentos em coisas. Concretizamos o abstrato para que este possua existência. Já não basta falar que gostamos, temos que demonstrar isso através das coisas: um buquê, um perfume, uma jóia. Comercializamos os desejos e capitalizamos os ideais. O promocional vence o institucional. Amor é um tempero, fé é o dízimo, vida é um plano de saúde. Tornamos-nos escravos das coisas, pois liberdade, já dizia um antigo comercial, é uma calça velha, azul e desbotada.

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