sábado, 26 de agosto de 2017

José, para onde?






 Ouvimos milhões de vozes gritando nas redes sociais e um profundo e interminável silêncio nas casas.

Vemos as luzes dos celulares nas mãos, olhos fixos nas telas e poucos abraços e conversas nas ruas.

Toques de dedos rápidos nas relações com as teclas e enorme ausência de tato nas relações pessoais.

Muitos se mostrando corajosos em selfies e se escondendo no irrevelável medo nos quartos.

Somos peixes Beta neste imenso aquário denominado Terra.

O nosso endereço é virtual e nesta imensa “família” ganhamos o mesmo sobrenome: arrouba (@).

Temos milhares de amigos no facebook, contudo, verdadeiramente, o cão é nosso único amigo e a coleira agora está no pescoço do homem.

Estamos passivos em inúmeros aplicativos. Mais livres para nos expressar e presos na escravidão da última mensagem que chega pelo WhatsApp.

As “carinhas” nas infovias substituem nossas emoções e palavras, enquanto robóticos apressados nos matamos nas rodovias. 

Na era da pós-verdade acumulamos nossas pré-mentiras.

Nossos vizinhos residem nos portais e fechamos nossas portas para quem mora ao nosso lado. 

Vociferamos na web nossa indignação contra a corrução, com palavras e frases que corrompem valores de educação, ética, respeito e dignidade.

Comemoramos nossa liberdade sexual em correntes de vídeos pornográficos. Falamos muito sobre sexo e pouco sobre sexualidade. Discutimos gênero e desconhecemos o humano.

Contratamos arquitetos de fachadas, carecendo de engenheiros de interiores.

Sozinhos no escuro com celulares nas mãos, qual bichos-do-mato nesta selva de pedra, sem teogonia, sem baleia azul para nos levar a ilha da poesia, nós navegamos, José!

José, para onde?

 

 

 




 
 
 
 
 

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