segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Ouve aí, prefeitos!

A comunicação pública é cada vez mais uma ferramenta estratégica, um direito de todo cidadão e deveria ser encarada com muita seriedade por todos os agentes públicos. O próprio princípio da publicidade na administração pública sugere tal importância no controle das ações e da necessária transparência dos atos de governo. Infelizmente (e já faz tempo) os nossos administradores não se preocupam muito com a imagem, a linguagem, a forma, o conteúdo, o veículo, o timing e principalmente, o mais importante, o público alvo. Não sabem que a comunicação é elemento integrante do marketing político e só se preocupam com este tema na hora das eleições. A eles, recomendaria os livros ou palestras, ou mesmo vídeos do emérito professor Gaudêncio Torquato. Contudo, vou pedir licença ao mestre para dar meus “pitacos” nesta conversa. 
Comunicação vem do latim “communicare” que significa “tornar comum”, ou seja, verdadeiramente só comunicamos quando o outro, aquele a quem dirigimos a mensagem, compreendeu o que dissemos e nos dá um feedback, um retorno, para que a “conversa” continue. Só aí já temos um problema sério pois a maioria desconhece a diferença entre comunicar e informar.
Saindo do tom “professoral” e teórico deste assunto que por si é por demais complexo, vou atentar ao que remete ao título deste artigo.
A atual administração pública em Poços de Caldas, diga-se com “louváveis interesses, de manter o contato” e o “diálogo” com a população” começou a transmitir pela Rádio Libertas, um programa denominado “Fala aí, prefeito”. Pontos positivos: o nome do programa, que passa a ideia de uma conversa informal e espontânea e a própria utilização do espaço da emissora oficial da prefeitura para a sua veiculação. Ponto. Parágrafo. Travessão. Outra linha. A partir daí os “ruídos da comunicação” são muitos.
A começar pelo timing, ou seja, o momento em que este programa está sendo transmitido, quase no apagar das luzes da atual administração, o que passa a sensação de que a “campanha política” já começou. Daí confunde-se publicidade com comunicação. Por que tal programa não foi realizado logo no início de governo? Por que só agora?
Outra questão é que o programa é gravado, o que indica que houve um trabalho de edição e daí a espontaneidade ganha traços de uma fala mecânica, sem expressão, sem emoção. A conversa entre o apresentador e o prefeito (sem demérito, nem critica a quem apresenta, já que está se seguindo um roteiro) nos lembra o apresentador Fausto Silva entrevistando os artistas da Globo. A pergunta já sugere a resposta. “O senhor não acha que é importante a participação popular? ”. “Sim, a participação popular é de fundamental importância e em nosso governo...”. Quando se inclui perguntas da população (que sugerem também uma montagem), a pergunta é feita de forma quase elogiosa, ou mesmo, para “levantar a bola para o prefeito chutar”. “A Rita do bairro tal diz que ficou muito feliz com a inauguração...”
Sobre o mesmo assunto, e só “para não dizer que não falei das flores”, quando diretor da Libertas FM em tempos do ex-prefeito Paulo César Silva, isto em 2010, realizamos logo no início do seu governo, um programa denominado “Conversa com o prefeito”. No início o programa, realizado ao vivo, até que foi bem e começou a ganhar certa audiência. Posteriormente, saiu do ar. O motivo: os mesmos que justificam o presente artigo.
Comunicação é diálogo entre duas pessoas ou mais. Se uma só quer falar e não quer ouvir, vira monólogo. Se o objetivo é fazer publicidade dos atos de governo, sem se preocupar em dar espaço às criticas, melhor mesmo é esperar o horário eleitoral.
Aliás todo administrador público deveria saber que para se criar credibilidade e efetivamente realizar a comunicação entre governo e população, mais do que exercitar o “fala aí, prefeito”, um outro programa deveria fazer parte e ser prática diária de qualquer administração pública: o “Ouve aí, prefeitos! ”.

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