Anos atrás, mais
precisamente em 1989, o Partido dos Trabalhadores na candidatura do
ex-presidente Lula lançava o bordão que se espalhou pelo país, cantado em
jingles, proclamado em comícios, inscrito em faixas. “Sem medo de ser feliz”
era o lema que buscava convencer o povo a votar em Lula como aquele que poderia
fazer feliz, os medrosos cidadãos brasileiros. Contudo, não seria ainda naquela
eleição e somente em janeiro de 2003 que o bordão “a esperança venceu o medo” se
faria valer no início do primeiro mandato do candidato do PT.
Chegamos em
2014 e o medo volta a ser inserido na campanha do Partido, porém, a conotação
agora é bem diferente. O medo hoje brilha é na estrela, que teme perder o
poder, largar o osso, deixar as benesses governamentais nas mãos de outra
pessoa, seja ela, Marina Silva, Aécio Neves ou qualquer outro adversário.
Para enfrentar
o medo de ser infeliz em uma provável derrota, vale espalhar o temor de que se
o povo não votar na candidata do Partido, perderá as bolsas, as carteiras, o
crédito, o pré-sal, o petróleo, o Fies, o emprego, a aposentadoria, a moradia.
Maquiavelicamente e ”maquiavelmente” a esperança do partido agora, é que o medo
vença o desejo de mudança.
Contudo, mesmo
não sendo simpatizante do Partido, é triste constatar, mais uma vez, que o
poder realmente corrompe ideais, seqüestra valores, macula ideologias, mata a
esperança. Ao Partido dos Trabalhadores legou-se uma página importante de nossa
vida social e política representada pela mudança, não somente de novos caminhos
estruturais para o país, mas, principalmente de conceitos que a política
brasileira havia esquecido, como a honestidade e o combate à corrupção.
É triste ver
o mesmo do mesmo e assistir a mais uma página que fere ainda mais a nossa dor
civil. É triste perceber que uma sigla partidária que teve a oportunidade de
confirmar o que apregoava em sua bonita trajetória, deixe de lado a sua
história, que a tantos brasileiros encantou, para se utilizar de instrumentos
já, infelizmente, tão conhecidos e praticados por aqueles a quem a mesma sigla
partidária combatia.
E vale lembrar
um pouco desta história citando um pequeno trecho do discurso de posse do
ex-presidente Lula em janeiro de 2003. “A
reforma da Previdência, a reforma tributária, a reforma política, a reforma da
legislação trabalhista, além da própria reforma agrária, esse conjunto de
reformas vai impulsionar um novo ciclo do desenvolvimento nacional. / O combate
a corrupção e a defesa da ética no trato da coisa pública serão objetivos
centrais e permanentes de meu governo. É preciso enfrentar com determinação e
derrotar a verdadeira cultura da impunidade que prevalece em certos setores da
vida brasileira”.
É triste
perceber que palavras de tamanha grandiosidade se deixaram morrer no cemitério
do poder e que o medo seja agora mais uma página de desalento em nossa já tão
desgastada esperança.
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