sábado, 13 de setembro de 2014

O medo de ser infeliz

Anos atrás, mais precisamente em 1989, o Partido dos Trabalhadores na candidatura do ex-presidente Lula lançava o bordão que se espalhou pelo país, cantado em jingles, proclamado em comícios, inscrito em faixas. “Sem medo de ser feliz” era o lema que buscava convencer o povo a votar em Lula como aquele que poderia fazer feliz, os medrosos cidadãos brasileiros. Contudo, não seria ainda naquela eleição e somente em janeiro de 2003 que o bordão “a esperança venceu o medo” se faria valer no início do primeiro mandato do candidato do PT.
Chegamos em 2014 e o medo volta a ser inserido na campanha do Partido, porém, a conotação agora é bem diferente. O medo hoje brilha é na estrela, que teme perder o poder, largar o osso, deixar as benesses governamentais nas mãos de outra pessoa, seja ela, Marina Silva, Aécio Neves ou qualquer outro adversário.
Para enfrentar o medo de ser infeliz em uma provável derrota, vale espalhar o temor de que se o povo não votar na candidata do Partido, perderá as bolsas, as carteiras, o crédito, o pré-sal, o petróleo, o Fies, o emprego, a aposentadoria, a moradia. Maquiavelicamente e ”maquiavelmente” a esperança do partido agora, é que o medo vença o desejo de mudança.
Contudo, mesmo não sendo simpatizante do Partido, é triste constatar, mais uma vez, que o poder realmente corrompe ideais, seqüestra valores, macula ideologias, mata a esperança. Ao Partido dos Trabalhadores legou-se uma página importante de nossa vida social e política representada pela mudança, não somente de novos caminhos estruturais para o país, mas, principalmente de conceitos que a política brasileira havia esquecido, como a honestidade e o combate à corrupção.
É triste ver o mesmo do mesmo e assistir a mais uma página que fere ainda mais a nossa dor civil. É triste perceber que uma sigla partidária que teve a oportunidade de confirmar o que apregoava em sua bonita trajetória, deixe de lado a sua história, que a tantos brasileiros encantou, para se utilizar de instrumentos já, infelizmente, tão conhecidos e praticados por aqueles a quem a mesma sigla partidária combatia.
E vale lembrar um pouco desta história citando um pequeno trecho do discurso de posse do ex-presidente Lula em janeiro de 2003. “A reforma da Previdência, a reforma tributária, a reforma política, a reforma da legislação trabalhista, além da própria reforma agrária, esse conjunto de reformas vai impulsionar um novo ciclo do desenvolvimento nacional. / O combate a corrupção e a defesa da ética no trato da coisa pública serão objetivos centrais e permanentes de meu governo. É preciso enfrentar com determinação e derrotar a verdadeira cultura da impunidade que prevalece em certos setores da vida brasileira”.

É triste perceber que palavras de tamanha grandiosidade se deixaram morrer no cemitério do poder e que o medo seja agora mais uma página de desalento em nossa já tão desgastada esperança. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário