Existe algo
de extremamente nocivo na Política já há muito comentado e que não se altera ao
longo do tempo. Não raro ouvimos discursos inflamados com palavras
infeccionadas pela retórica com um único objetivo: a permanência quer seja de
um indivíduo ou de partidos nas esferas públicas. Assim, a busca não é, como
ainda nos tentam convencer, de alcançar as melhorias na sociedade através dos
aparelhos governamentais, mas tão somente ficar, permanecer, continuar a
exercer o poder, arquitetando maquiavelicamente os meios para que isto se
concretize. Um destes, o tráfico de influência. Fulano conhece beltrano que
conhece sicrano e, por intermédio desta quadrilha, cargos são ocupados, leis
são aprovadas ou reprovadas, benefícios são repartidos entre amigos, e o poder
continua a ser exercido, não em nome do povo, mas em nome de um grupo, quer
seja ele político ou empresarial. Assim,
o voto nas urnas acontece apenas para validar um sistema que tem em sua
formação, o conluio, as tramas, o jogo de cartas marcadas, que ocorreu muito
tempo antes, nos corredores dos palácios, nos gabinetes políticos e nos
escritórios das empresas.
A eleição,
denominada eufemisticamente de livre e democrática, é o ato final, o palco
teatral para que os atores representem e a plateia valide a atuação. O voto é tão
somente o ingresso ou o reingresso do político ao poder. Até as manifestações
nas ruas são utilizadas como bandeira por aqueles que tentam ludibriar a
população se autodenominando defensores dos interesses públicos.
A maioria
dos cidadãos já não se sente mais representado, muito menos respeitado, quer
seja por políticos, partidos ou instituições. Há certa descrença coletiva
inoculada nas veias dos cidadãos que não creem mais na transfusão das suas
necessidades para as veias daqueles que deveriam representá-lo.
Ironicamente
e antropofagicamente, o desejo e a busca insana pelo poder tiraram do político
aquilo que deveria ser a essência de sua missão: ser o representante legítimo
do cidadão e não aquele que está no cargo apenas para representar os sórdidos
interesses particulares, empresariais ou partidários.
Difícil
enxergar cura, quando a doença é crônica nesta política anacrônica.
Difícil enxergar tratamento eficaz para o mal
causado por anos de corrupção e impunidade.
Difícil enxergar luz, após anos
vividos na escuridão do poder.
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