Não sei
você, mas, ultimamente, ando me sentindo como um par de galochas competindo com
as botas de ultima geração de uma moderna sapataria. Literalmente estou fora de
moda e nem protesto já que minhas atitudes me condenam.
Ainda falo
“bença mãe!” e faço nome do pai em frente à igreja. Muito embora a pressão
social e industrial seja forte, sou convicto de que mulher é mulher, homem é
homem e paca é paca, ou pelo menos eram. Peço licença para passar entre as
pessoas e o volume do som do meu carro serve apenas à minha audição. Ainda
busco uma lixeira para jogar o papel e quando vejo alguém jogando uma latinha
na rua, quase me mordo de vontade de jogar a pessoa no lixo. Quanto estou
sentado e vejo uma gestante em pé, fico incomodado até oferecer o lugar. Continuo
dizendo com muita frequência “por favor “ e “obrigado” e, ao conhecer alguém ,
me pego dizendo “muito prazer em conhecê-lo”. Ainda me espanto, de um lado, com
o comportamento dos políticos e de outro, com a passividade do brasileiro. Fico
indignado no descaso do patrão com o empregado e o descaso do empregado com a
empresa. Incomoda-me a tecnologia sem limites sendo mais valorizada que o
humano e o comportamento sem limites dos que se dizem defensores da liberdade.
Verdadeiramente
sou peça fora de catálogo, àquela ceroula branca competindo com os pijamas de
grife.
Meus olhos
ainda teimam em lacrimejar ao ver o cuidado de uma enfermeira com a paciente
idosa. O sorriso aberto de um motorista de ônibus em meio ao trânsito
insuportável. As mãos grossas de um jardineiro podando os espinhos de uma rosa e
a professora de braços abertos recebendo as crianças na porta da creche.
Ainda leio
poesia ao cair da noite. “Ora (direis) ouvir estrelas! Certo, perdeste o senso.
E eu vos direi, no entanto, que, para ouvi-las, muitas vezes, desperto e abro
as janelas, pálido de espanto.” (Olavo Bilac).
Sou gravata borboleta em um sofisticado closet
e decididamente as roupas deste mundo moderno não servem em mim.
Tudo bem. Sempre
detestei uniforme.
Nenhum comentário:
Postar um comentário