quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

PASSAGEM

Não sei você, mas a passagem de ano, sempre me incomoda. Depois até me ajeito na poltrona, me acomodo, me sossego. Mas, a intersecção entre o velho e novo, me parece exigir novas atitudes, novos olhares, novas formas de fazer e me relacionar com coisas e pessoas. O ano velho falando tchau e o outro chegando, batendo na porta, exigindo o novo, de novo. É um cobrador de ônibus solicitando o ticket e questionando. “E aí, vai ficar nesta sua vidinha besta? Trabalhando, estudando, fazendo compra no supermercado, assistindo futebol na TV, pegando filme na locadora, saindo com o cachorro, discutindo a relação...”. A sensação é a de estar em uma rodoviária, cheio de malas e pertences antigos embarcando em nova viagem rumo a um destino que desconheço, ou mesmo que conheço por demais e, exatamente por isto, a palavra mudança chega sempre no imperativo.


Que tal um corpinho novo? Entre em uma academia, faça musculação, olha a dieta, não se esqueça da caminhada, beba com moderação, restrinja a ingestão de alimentos gordurosos, frutas e legumes sempre. “Por que tudo que eu gosto é ilegal, imoral ou engorda?”. Claro, tem homem fazendo botox, cirurgia plástica, implante de cabelo. (Não sei. Já sou um semi-novo com pneu meia vida e motor recondicionado. Não se muda por fora, o que por dentro já se consolidou. Vou esperar a viagem seguir mais a frente).

Que tal uma mudança de emprego? Largue tudo o que está fazendo hoje e seja um empreendedor. Monte um boteco, uma pizzaria. Tecnologia é o que manda. Invista em um site de compras coletivas. Vai vender hardware, software, tupperware. Seja mais radical ainda. Mude de cidade, largue as montanhas e vá viver em uma cidade praiana. Tire o sapato e a gravata. Coloque um chinelo e um calção, vá vender coco e comida natural. Largue o consumismo e seja adepto do zen budismo, do bermudismo. Monte uma pousada em uma praia de nudismo. (Sei não. Quem me garante que não vou nadar, nadar, e morrer na praia? Não sou muito chegado ao sol e ficar passando protetor solar e repelente não é algo que me cheira bem. Vou esperar a viagem seguir mais a frente).

Que tal um novo amor? Uma linda mulher em um último tango em Paris ou mesmo em um lugar chamado Nothing Hill? Um Titanic de paixão, antes do amanhecer? Que tal virar um Shakespeare apaixonado sob as pontes de Madison, como se fosse à primeira vez? (Não sei. Já sei letra e música e as 10 coisas que minha mulher odeia em mim e acredito que sempre alguém tem que ceder mesmo. As lendas da paixão tendem a durar pouco, no máximo, nove meses. Vou esperar a viagem seguir mais a frente).

Enfim, não vejo à hora de terminar o mês de janeiro, quando o ano novo já começa a ficar velho. Mudanças? Vou esperar até o final de ano, quem sabe...

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