sábado, 9 de junho de 2012

Quatro Estações

Não existem fórmulas, nem receitas prontas, inexistem manuais que explicam e professores no assunto. Não dá para ver o que deu certo com outros e aplicar no seu dia-a-dia. O modo de fazer a dois, exige temperos próprios, à moda da casa, e na maioria das vezes, envolve ainda muitas outras pessoas ao longo do preparo. O que dizer sobre o relacionamento a dois - tema tão plural que envolve inúmeras variáveis no singular? Abri o portão de casa e um vento frio recordou-me que o inverno se aproximava. Com ele, as mudanças de hábito: a necessidade do agasalho, o maior cuidado com a saúde, a alimentação diferenciada. A natureza se transformando exigindo novos comportamentos. Talvez seja isto. O relacionamento a dois exige da gente a capacidade de compreender as diversas fases que vivenciamos ao partilhar a nossa vida com a vida do outro. A rosa exala o perfume e simultaneamente nos oferece o espinho; o fluxo e refluxo das marés; o dia e a noite; as quatro estações do ano. É preciso viver o verão. O calor da paixão, a liberdade dos corpos, as sensações inconfessáveis e intransferíveis no que existe de mais orgânico em nós. As cores e a energia. A luz e o amanhecer. A sede a dois, o saciar a dois, a esperança nos raios da alvorada. O outono chegou. Momento de perceber as folhas e frutos da relação. Parar e pensar na colheita. Verificar o que foi bom e o que poderia ter sido melhor. Verificar os estoques da compreensão, do carinho, da partilha. O inverno se aproxima e é preciso se preparar. As folhas que caíram é o que possibilita o nascimento de outras que virão mais fortes e vivas. Veio o inverno. Com ele, o recolhimento, o aconchego. O frio faz tremer as relações, mas traz a oportunidade de união ainda mais intensa. O sofrimento, as dores, as brigas. Para muitos, o início da separação. Para outros, o botão que aparentemente se recolhe é preparo necessário para brotar as flores. É necessário aguardar pacientemente a chegada da primavera. Primavera voltou. Tempo do acasalamento, quem sabe, gerar uma nova vida? Uma viagem talvez? Comemorar a vida em sua plenitude. Irrigar a relação, se vestir para o encontro. Maravilhar-se, surpreender, criar. Foi muito bom plantar, esperar a passagem das intempéries, o momento é de colheita, na expectativa de novo recomeçar. Talvez seja isto. Quem vive a dois necessita saber que há o momento da entrega e o da espera, o do recolhimento e o do completar-se, o da ausência e da partilha. Se não for assim, perde-se o plantio, interrompe-se a semeadura, aborta-se a colheita. “Quem quer viver o amor, mas não quer suas marcas, qualquer cicatriz, a ilusão do amor, não é risco na areia, desenho de giz...Quem pode querer ser feliz se não for por amor?”(Desenho de Giz-João Bosco).

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