sábado, 13 de novembro de 2010

O aluno "passa, o ensino é reprovado

As gírias acompanham a humanidade e simplificam, muitas vezes, a comunicação. Além disto, são espelhos de uma cultura e decodificam um momento vivido. “Bombar”, por exemplo, significava (e não faz tanto tempo), que o aluno não havia “passado” de ano, ou seja, não foi aprovado. O medo do estudante era ”levar bomba” e para que isto não ocorresse, estudar mais e se dedicar era a única saída.
Hoje, vivemos uma nova “onda”. Fazer sucesso, chamar a atenção é que é “bombar”. (“Cara, a festa ontem bombou”). Outro exemplo. Alcançar a média para ser aprovado era “um deus nos acuda”. Atualmente, “fazer média” para “livrar a barra” e “mandar um migué” no professor tem até a aprovação da instituição de ensino. “Passar” de ano hoje é a maior “mamata”. Basta fazer “vistas grossas”, já que o aluno tem “carta branca”, e estamos todos (governo, instituições, professores, pais e alunos), seguindo a mesma cartilha. (Me lembrei da cartilha ”Caminho Suave”, de excelente qualidade, existente ainda, cujo nome hoje é realmente mais apropriado). Estamos “assistindo de camarote”, “empurrando com a barriga”, “fazendo corpo mole”. “Tô nem aí, to nem ai...”. Porém, no boletim de avaliação, a educação no país está com notas cada vez mais baixas, pois, a qualidade de ensino é quem está “pagando o pato e a conta”. O estudante é apenas um cliente (e cliente sempre tem razão), o ensino se tornou mercadoria (“não perca a nossa promoção”) e as instituições, claro, são empresas que precisam dar lucros (não sociais, pois isto não é problema delas, mas financeiros). E o professor? Este, ao pé da letra, fica vendido. Dizem até, maldosamente claro, que a instituição quer vender um diploma, o aluno quer comprar e, “caramba”, existe sempre o tal do professor atrapalhando esta relação, querendo ensinar.
Tudo bem, ninguém é ingênuo. O mundo é outro e o setor da educação está cada vez mais competitivo. As instituições se proliferaram (notadamente, as faculdades e cursos à distância) e é preciso “brigar” para manter o estudante, quer dizer, o cliente, e, a maioria das instituições de ensino está hoje “com a corda no pescoço”. E se, como diz o ditado, “em casa de enforcado, não se fala em corda”, fingimos que ensinamos e os alunos fingem que aprendem e está tudo certo. Errado. Estamos escrevendo muito mal a história do ensino no país e precisamos sim ficar “grilados” com a situação, pois estamos “jogando às traças” o que há de mais fundamental para o desenvolvimento de um município, estado e nação: preparar as pessoas, tanto do ponto de vista técnico quanto de relacionamento, para os desafios contemporâneos. Agrada-nos a reflexão: queremos um mundo melhor para nossos filhos ou filhos melhores para o nosso mundo? E “passar” de ano, sob este ponto de vista, é até secundário. O “calcanhar de Aquiles”, isto sim preocupante, é que não estamos fazendo a nossa “lição de casa”. Deixamos de nos preocupar em “ensinar” para “aprender” a conviver com o jogo do mercado. E como passar nesta “prova”? Com certeza, uma questão de múltipla escolha e que não tem apenas uma resposta certa. Será necessário muito estudo e um trabalho em grupo e multidisciplinar. O que não podemos é assistir o ensino ser embalado em apostilas padronizadas, ser comercializado por grandes marcas de instituições financeiras, tendo como instrumentos, professores manipulados e robóticos, e, nesta equação obter como resultado, alunos bitolados e sem iniciativa, que serão, certamente, reprovados na vida. É preciso virar a página, passar a borracha e aprender a lição: briga de mercado e ensino de qualidade não podem ocupar a mesma carteira.

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