terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Salário de fome e fome de salário

Se existe um assunto que muitos preferem não comentar no Brasil é sobre salário. Salário é um tema meio salgado. Talvez isso se explique na origem da palavra: salário vem do latim salarium, pois no Império Romano os soldados recebiam sal como pagamento pelos serviços prestados. Alias, ao invés de soldados, deveriam se chamar saldados.
Salário é realmente um assunto muito pessal, (ops) pessoal. Só interessa realmente ao indivíduo, ou quando este vem a falecer em decúbito dorsal, à sua família e aos parentes que nesta época salpicam de todos os lados. Daí, os frutos do salário do indivíduo juntam a “salgada família” em torno de uma mesa. Daí a confraternização vira reunião coletiva, inventário, discussão, tribunal, um sal-ve se quem puder... com a melhor parte.
Mas e quanto ao salário de um funcionário público? Deve ou não ser amplamente divulgado? Quanto ganha um presidente? Um governador? Um deputado? Um juiz? Um prefeito? Um vereador?
Vamos colocar mais uma pitadinha de sal no assunto, pra temperar melhor a conversa.
Uma grande parcela dos cidadãos brasileiros vive, ou sobrevive, com um salário mínimo (aliás, palavra bem apropriada), atualmente fixado em 465 reais. E quem define o valor do salário mínimo? Os representantes do cidadão: o presidente, os deputados...
Vamos juntos nesta salada tomando cuidado com a hipertensão salarial, quer dizer, arterial. Quem paga o salário de um funcionário público? O cidadão, através do pagamento de impostos. Quem, no final das contas, é o patrão do funcionário público? O cidadão.
Resumindo este pacote. Quem define a maioria dos salários dos cidadãos no Brasil, através do valor do salário mínimo, são os agentes públicos. E quem define os salários dos agentes públicos? Os próprios agentes públicos, através das leis. O fato curioso é que neste caso, o salário do patrão (o cidadão) quem define é o funcionário (agente público) e o salário do funcionário quem define não é o patrão, e sim, o próprio funcionário.
Um deputado federal percebe, segundo se apurou, cerca de 100 mil reais por mês. Importante lembrar que este valor define legalmente o salário de parlamentares de outros escalões, ou seja, o efeito cascata atinge deputados estaduais, senadores, vereadores.
Nada contra a alguém ganhar bem, até porque é um direito constitucional ter um salário justo e uma vida digna. “Salário mínimo, fixado em lei , nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua família, com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim”.(Capítulo II- art. 7°- inciso IV-Constituição da República Federativa do Brasil).
Contudo, enquanto no Brasil muitos ganham um salário de fome, outros têm fome de salário, e o que é pior: fome alimentada por leis que eles próprios produzem.

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